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Cultura/Capoeira
Por: José Salucci – Jornalista e diretor do Merkato
O “3º Encontro Estadual de Salvaguarda da Roda de Capoeira e Ofício das Mestras e dos Mestres de Capoeira no Espírito Santo”, aconteceu entre os dias 31 de janeiro a 02 de fevereiro, no município de Cachoeiro de Itapemirim, no Hotel Caiçara.
Na ocasião, mestres, mestras, contramestres, contramestras e professores de capoeira, e gestores públicos, assim como agentes culturais, participaram do evento cultural, com o intuito de construir, formular e consolidar o Plano de Salvaguarda do bem cultural no estado do Espírito Santo.
O sábado foi marcado pelos GTs (Grupo de Trabalho): ‘GT Capoeira e Esporte, ‘GT Racismo Religioso’, ‘GT Mulher na Capoeira’, ‘GT Capoeira como Bem Estadual’, ‘GT Complementação do Mapeamento dos Grupos’.
Iniciando a rede de pesquisa, o “GT Capoeira e Esporte”, coordenado pelo professor Nelson, abordou as quatro subdivisões que existem na capoeira esporte: educacional, lazer, rendimento e cultural. Nelson, que tem 30 anos de capoeira, falou sobre a importância de o Plano de Salvaguarda ser debatido e construído em sua cidade natal.
“Eu penso que foi uma forma muito democrática, já que, existiram outras ações no Norte e no Centro do ES, nada mais justo do que valorizar o Sul do estado, já que tem a sua importância na formação da capoeira capixaba. E, também legitima os detentores na construção do documento, que irá nortear sua prática”, disse o professor de educação física.
No “GT Racismo Religioso”, o coordenador Mestre Fernado, do Grupo de Capoeira Força Negra, apresentou dados científicos destacando o contexto de escravização no Brasil. Na ocasião, o mestre pontuou, segundo a visão pessoal, embasado nos índices, as manobras políticas do século XVIII e XIV.
“Eu trouxe os números à época da abolição da escravatura para evidenciar o porquê da manobra política para criminalizar a capoeira. A partir disso aí, as religiões de matrizes afrodescendentes tiveram suas identidades culturais inibidas em suas práticas”, disse.
À tarde
Na parte da tarde, os trabalhos foram abertos com o “GT Mulher na Capoeira”, com a coordenação da Contramestre Ananda Bermudes Coutinho, que em 2019 foi eleita à delegada no I Encontro de Capoeira de Salvaguarda, em São Mateus.
No atual encontro, ela destacou os desafios da mulher vivenciados na capoeira: preconceito por ser mulher, machismo, maternidade, falta de incentivo dos mestres, assédio, violência física e psicológica.
A Contramestra disse à reportagem o sentimento de participar do III Encontro Estadual de Salvaguarda. “Ver o empoderamento da mulher na capoeira, a mulher saindo do local de invisibilidade, os números que vão aumentando de mulheres com graduação na capoeira… Ver as conquistas, conseguir nos organizarmos e apontar as dificuldades, e trazer essas dificuldades que precisam de ser enfrentados, e que os homens precisam de estarem juntos para poder resolver, e estou bem feliz do que está sendo discutido nesse III Encontro”, narrou a integrante do Grupo de Capoeira Angola Volta ao Mundo.
Logo após, Mestre Museu, da Associação Iê Capoeira – São Mateus e a Contramestra Maritaca, Grupo Sementes da Terra – São Mateus, apresentaram o “GT Capoeira como Bem Estadual”, que destacou as referências históricas da capoeira no ES: primeiras cidades, registros orais, personagens históricos.
O Me. Museu ainda apresentou em seus dados, as rodas de capoeira, os locais considerados tradicionais, datas comemorativas e eventos da capoeira. Além de orientar os capoeiristas a investigar as leis para uso da comunidade capoeirística e fechou sua apresentação mostrando o papel das legislações que implicam as ações da capoeira e para a capoeira.
À noite
O “GT Complementação do Mapeamento dos Grupos”, realizado pelo Me. Walter e Me. Fábio (Beribazu), trouxe um planejamento para um futuro senso da capoeira no Espírito Santo. Os dois mestres prepararam um questionário, onde foi mostrado a metodologia da pesquisa, os futuros dados a serem colhidos, a equipe que trabalhou para a realização do questionário, além de ter mostrado as diversas perguntas incluídas na pesquisa. O questionário será enviado para mestres e mestras responderem. Após o levantamento dos dados, a pesquisa continuará com outros fins, ainda a ser estudado.
O Me. Fábio aproveitou o momento para elucidar o que significa uma memória cultural. Apresentou em slides fotos de eventos de capoeira nos anos de 1935, década de 1940 e 1960, que ocorreram em Bento Ferreira (Vitória), e em Cachoeiro de Itapemirim. Na ocasião, uma foto com o Me. Bimba foi revelada, nesse momento o Me. Fábio chama atenção para um trabalho de mapeamento. “A memória tem que ser guardada, mas tem que ser descrita. Registro e memória, eles andam juntos”, observou.
Domingo
Encerrando o “3º Encontro Estadual de Salvaguarda da Roda de Capoeira do ES”, o Contramestre Eleandro (Beribazu) apresentou dois GTs: “GT Regulamentação e Profissionalização e “GT Captação de Recurso e Incentivo”.
No primeiro, o Contramestre destacou a diferença entre regulamentar e profissionalizar, termos que necessitam de ser bem explicados e entendidos no âmbito das leis.
“Regulamentar uma profissão é criar regras e condições para o exercício profissional de sua atividade. Já a profissionalização, diz respeito mais a formação e habilitação profissional”, disse.
Eleandro destacou que, é preciso estar claro para os capoeiras sobre a definição da regulamentação e profissionalização, para que haja bom entendimento de assuntos pertinentes da prática cultural, como aposentadoria, previdência, inclusão da capoeira nas escolas, etc. Reafirmou, ainda, que, regulamentar não pressupõe a garantia de emprego.
No último GT do dia e, encerrando o evento, Eleandro concluiu o evento com o “GT Captação de Recurso e Incentivo”.
Eleandro chamou atenção que, em 2014, havia um edital específico à capoeira no valor específico de R$ 200 mil reais, em dias atuais, não há. Por outro lado, o capoeira destacou as duas leis vigentes no ES: Lei de Incentivo à Cultura Capixaba – LICC – e a Lei de Incentivo ao Esporte Capixaba (LIEC), que possibilitam que projetos voltados para a capoeira possam ser inseridos na sociedade em geral.
“Precisamos analisar e entender as políticas públicas que envolvem a capoeira. Precisamos estabelecer um diálogo com os agentes públicos, estimular o consumo de produtos por artistas artesãos praticantes da capoeira do ES, por fim contribuir para a qualificação dos fazedores de cultura para exercerem sua cidadania e seu protagonismo social para a reconstrução de políticas públicas para a capoeira”, concluiu.
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