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5 de dezembro de 2024

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“Projeto Karatê na Comunidade”: é tempo de nascimento!

De kimono preto, o professor e criador do Projeto Karatê na Comunidade, Doulgas Colnago Ribeiro. De kimono branco, o Mestre Rony. À esquerda na foto, em pé, de óculos, a Mestra Fabiana. / Foto: Divulgação.

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Terceiro Setor / Projeto Social

Projetos sociais me fascinam e por isso busco conhecer histórias de superação, heroísmo, altruísmo, cidadania entre outros termos. Com oito anos de trabalho no Terceiro Setor, entre voluntariado e trabalho remunerado e, agora, podendo exercer a profissão de jornalista, sendo o CEO do jornal Merkato, que é um agente de comunicação para o Terceiro Setor, vislumbro a esperança em cada pauta que cubro sobre projeto social. Aqui estão os verdadeiros heróis anônimos, os quais são agentes políticos em comunidades de vulnerabilidade social, algumas caóticas outras nem tanto. É nesse campo social que o Terceiro Setor, movido por pessoas que são apaixonadas por pessoas, se torna um braço do poder público para efetivação de ações sociais.

E a história que venho contar hoje, é a do “Projeto karatê na Comunidade”, idealizado e fundado por Douglas Colnago Ribeiro, 28. É aquele tipo de projeto que o ‘cara’ é um verdadeiro Tarzan, mas no caso dele, pra ficar mais próximo da figura do karatê, ele é um legítimo sensei – título honroso para tratar com respeito um professor ou um mestre -.

Atualmente, o projeto promove cidadania através do esporte, no estilo karatê SHOBU-RYU, no bairro Camará, na Grande Laranjeiras/Serra, onde Douglas foi criado até os 10 anos de idade. A Associação de Moradores do Bairro Camará auxilia o projeto na representatividade do vice-líder da comunidade, Rogério Valdeli. “Antes de fechar com ele, eu apresentei o projeto pra diretoria; alinhamos para que esse projeto acontecesse. Com a graça do bom Deus, tá acontecendo”.

Ao todo, entre 30 a 40 crianças/adolescentes, de 6 a 17 anos, são atendidas em uma quadra poliesportiva da comunidade, funcionando terça-feira e quinta-feira, das 19h às 21h. O projeto também atende o público PCD – Pessoa Com Deficiência.

Fruto de projeto social quando era adolescente, o então garoto Douglas, que ainda nem pensava em esporte de combate nessa época, era ligado ao futebol,  ingressou em um projeto de karatê no município de Serra.

“Comecei karatê, eu tinha de 14 pra 15 anos, em um projeto social no Centro de Convivência do bairro Continental. À época, o “Instituto Continental em Ação” realizava o projeto, a presidente era a Rúbia Mara. Meu primeiro professor foi o Mestre Rony, posteriormente, a Mestra Fabiana viu que eu me destacava e me convidou para auxiliá-la nas turmas iniciais femininas, até me dava uma ajuda de custo”, contou.

Como mencionou em sua fala,  Douglas teve a oportunidade de começar os princípios do karatê com o Mestre Rony José da Silva. Hoje, faixa preta 5º Dan Karatê SHOBU-RYU, 3º Dan de Taekwondo, atualmente secretário Geral da Federação Espírito Santense de Taekwondo. Rony já possui 34 anos de prática do karatê SHOBU-RYU.

“Ministro aulas para o Douglas desde 2010, quando eu era professor no projeto em Cidade Continental. Ele se mostrou com bastante desenvoltura alcançando a faixa preta. Ele já tinha ministrado aula em São Roque do Canaã, onde formou a sua equipe: Equipe Falcões. Teve destaque a nível nacional, onde participou do evento do Brasileiro de Karatê Interestilos – da CBKI – a equipe dele trouxe cinco medalhas de ouro, inclusive ele medalhou”, disse o mestre.

E quando ele fala do aluno Douglas, o respeito e admiração estão inseridos naturalmente. “Eu fico muito satisfeito, orgulhoso por todo o trabalho dele no karatê, nos projetos. E sempre que eu posso estar visitando o projeto, eu dou um apoio, uma fala sobre o karatê, sobre conhecimento, sobre evolução”, disse o também árbitro de taekwondo do Quadro Nacional de Arbitragem da Confederação Brasileira de Taekwondo, desde 2014.

Recebendo esse tratamento honroso por seu mestre, Douglas, que é filho de projeto social, agora se tornou pai de projeto social. O sensei narra a felicidade de frutificar no campo da luta da vida. “Pra mim é uma grande realização, porque eu sei a importância que o projeto fez na minha vida. Eu tava numa fase meio de rebeldia na minha casa, então o projeto de karatê, dentro da sua diretriz, me moldou para ser um cidadão de bem e a partir do karatê, eu vi que eu posso mudar a minha vida e a vida de outras pessoas por meio do karatê”, disse com os olhos cheios d’água.

Enfatizando a oportunidade recebida no projeto social em Cidade Continental, uma das primeiras referências feminina de sua vida no esporte, durante dois anos, a Fabiana de Sousa Coutinho, 45, funcionária pública, conta como foi investir no então adolescente, que agora se tornou um homem de honra.

“Eu sempre vejo que o esporte tem poder de resgatar. E por ser um projeto social e a idade que ele estava, que dependendo da situação se a gente não abraçar, têm outras pessoas que abraçam. E ele, ali dentro, mostrou uma das principais características: a humildade e a vontade dele de vencer. Se tornou um excelente aluno, a qual ganhou minha confiança no projeto. Eu dei a total liberdade pra ele ministrar as aulas para as meninas, porque ele sabe respeitar. Aprendeu desde novinho, lógico que a educação vem de casa, mas o karatê ajuda agregar. E ele soube pegar isso muito bem e carregar pra vida dele e tá passando hoje pros alunos”, narrou a primeira Mestra de karatê do estado do Espírito Santo.

No próximo dia cinco de maio, o professor Douglas levará seus pequenos atletas para competirem em Cariacica. Muitos beneficiários não possuem kimono. Faça sua doação! Visite o projeto “Karatê na Comunidade”! / Foto: Divulgação.

Diante das falas honoríficas, o professor Douglas não é só campeão na arte da licenciatura do karatê e no respeito pelo próximo. Claro, um campeão começa por esses predicados. Mas falando de combate na vera, no ano de 2017, o atleta consagrou-se campeão invicto da Etapa Estadual Interestilos, na categoria 70 a 75 kg, faixa preta adulto. À época, o campeonato foi organizado pela FEKESE – Federação de Karatê Esportivo Interestilos, hoje se encontra desativada. A FEKESE era ligada à CBKI – Confederação Brasileira de Karatê Interestilos, essa permanece ativa em dias atuais.

Outra luta que enfrenta para ser campeão é o trabalho. Com a profissão de motoboy, o gestor de projeto social também é Técnico em Meio Ambiente pelo IFES, e está no 6º período de licenciatura em Ciências Biológicas; trancou a matrícula, mas pretende voltar este ano. A paixão pela Biologia vem do avô, que foi orquidófilo. Euclidio José Colnago, primeiro morador do bairro Camará, onde morava numa fazenda própria, com o passar do tempo o terreno foi sendo loteado e se tornando em bairro.

Presidente

O presidente da Federação de Karatê SHOBU-RYU, do estado do Rio de Janeiro, Grão Mestre Gregório menciona o carisma e profissionalismo do professor Douglas e comenta “temos uma honra de ter o professor Douglas, faixa preta 2º Dan , o projeto social dele, onde ele se dedica a arte marcial, onde ele administra a disciplina, o vigor físico para as crianças e agradeço a entrevista de poder falar sobre o karatê. E agradecer ao Douglas que ele sempre demonstrou que a equipe de Karatê SHOBU-RYU, na Serra, é de elite. Os karatecas do ES têm um potencial muito grande, mas infelizmente se esbarram no patrocínio”, disse Gregório Evangelista, 55, que iniciou na arte marcial em 1983, hoje é Grão Mestre de karatê, 9º Dan de karatê.

Setur

O Projeto Karatê na Comunidade ganha a confiança também da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer (Setur). O titular da pasta, Pedro Henrique, fala da perspectiva da Setur em contribuir com as demandas do projeto.

“Estamos em sintonia e diálogo constante com os projetos sociais do município, ajudando e orientando a captar recursos em diversos editais, que são disponibilizados pelo governo Estadual e Federal. Além de estarmos sempre investindo e apoiando diversos eventos esportivos no município”, disse o secretário.

A Setur também destacou os planejamentos que têm efetivado em apoio a projetos sociais esportivos.

“Hoje já temos distribuídos no município de Serra, quatro (04) núcleos que gerencia nossos equipamentos com diversas atividades esportivas e culturais por entidade do Terceiro Setor por meio de chamamento público. (Arena Jacaraípe, Estação Conhecimento de Vila Nova de Colares, Estação Conhecimento de Novo Porto Canoa e o Parque Caminho do Mar”, completou o titular da pasta.

Para impulsionar o projeto “Karatê na Comunidade” a seguir com suas atividades, a Setur informou que cadastrou o projeto no “Programa Campeões do Futuro”.

Companheira nas lutas

Para que o projeto “Karatê na Comunidade” tenha equilíbrio administrativo, há um trabalho feito por Rhayra Schreder, 21, esposa de Douglas, que atua no projeto como coordenadora Geral. Com muita simplicidade e altruísmo, a esposa, amiga e gestora comenta seu envolvimento no Terceiro Setor.

“Nunca tive nenhum contato com projeto social, esse é o meu primeiro contato. É muito bom você ter uma pessoa ao seu lado pra dividir seus sonhos com ela”, contou sorrindo.

Entre os muitos desafios que existem no Terceiro Setor, em gerir, administrar, arrecadar recursos, cuidar das pessoas, buscar voluntários, a coordenadora pontua os desafios enfrentados nesse trabalho.

“Quando a gente trabalha com projeto social vemos muita demanda, principalmente em questões sociais. Temos muitas crianças atípicas no projeto portadora de algum tipo de deficiência ou algum tipo de problema, isso é uma demanda muito grande. Além disso, uma demanda que a gente vem enfrentando é a questão de recurso financeiro. A gente não tem recursos pra comprar equipamentos necessários, como um tatame. Então isso é uma demanda que a gente vem tentando solucionar, mas não é fácil”, disse com expectativa.

Família

E diante desse trabalho efetivo realizado com disciplina, ética e amor, alunos (as) e pais também se manifestam para falar do que acontece de transformador nesse cenário de esporte e projeto social. Roseli Rosa dos Santos Dias, 33, moradora no bairro Camará há 3 anos, com duas filhas inseridas no projeto social, uma de 12 e uma de 7, a Hadassa e Débora, são ativas no karatê e, claro, a mãe comenta o orgulho delas poderem estar sendo inseridas em uma oportunidade para formação pessoal, profissional e cognitiva.

“Depois que elas entraram  no karatê, a questão da disciplina, da organização e comprometimento melhoraram. Está sendo muito importante pra elas, não só aqui no projeto, mas em casa e na escola”, destacou.

E diante de tanta mudança e crescimento, Roseli também comentou o fato de suas filhas já estarem inseridas no grupo que participará de competições. O projeto Karatê na Comunidade visa não somente a formação cidadã, mas o foco em resultados de auto rendimento.

“Nunca imaginei que minhas filhas poderiam algum dia estar fazendo essa atividade, o karatê. Minha filha Hadassa mesmo, hoje ela é faixa verde… pra mim é um grande orgulho. A Débora é faixa laranja (a mais nova). Eu, como mãe, sinto muito orgulho! Agradeço ao professor Douglas pelo projeto, por ter paciência com elas, com todas as outras crianças. Pra mim é um excelente trabalho, é um excelente projeto que só tem a crescer e ajudar as crianças aqui do bairro”, complementou.

Nesse campo fértil de oportunidade e inclusão, as batalhas não aparecem apenas dentro das aulas, mas existem aquelas que estão na mente de cada um de nós, não ficaria de fora que, crianças e adolescentes, também possuem suas particularidades e questões psicológicas afetadas pelas experiências do dia a dia. Para a aluna Ana Clara Guimarães Machado de Oliveira, 15, estudante do 1° ano do ensino médio, que entrou no projeto em 2023, após inserir no esporte adquiriu mais concentração e paciência.

“Eu era bem desiquilibrada, não fazia nenhum exercício físico, era mais sedentária, a partir do momento que eu entrei no karatê, eu comecei a ser uma pessoa mais concentrada, consigo me equilibrar mais mentalmente e fisicamente. Agradeço ao projeto por ele está me ajudando a crescer como pessoa”, disse com timidez, mas com aspecto sincero.

No canto direito na foto, em pé, o vice-líder da comunidade de Camará, Rogério Valdeli. Essa turma de usuários são o segundo grupo, aqueles que estão sendo preparados para disputarem competições. / Foto: Divulgação.

Tempo

O Projeto Karatê na Comunidade completará 9 meses no dia 25 deste abril. Será tempo de nascer pra vida. De sair do tempo de gestação e entrar para o tempo de viver a vida pelo lado de fora. No tempo de gestação, a palavra oportuna de se dizer é: esperar. Os pais esperam pela chegada do filho (a), o ser que está sendo gerado espera sair para conhecer o mundo que só ouve falar. Assim, o Karatê na Comunidade senti suas dores de parto, por isso os desafios de adquirir recursos financeiros, entre outras contrações.

O pai do projeto relembra o momento da fecundação. “Morei no Camará até 10 anos de idade. Aqui não tinha nada pra mim. Eu tinha que me deslocar de Camará até Jardim Limoeiro para ir à escolinha de futebol. Então pensei que as crianças de hoje em dia não deveriam ter nada. Eu dei uma volta no bairro, vi muitas crianças no bairro. Eu, como cria do bairro, pensei em poder promover algo pra essas crianças. Eu procurei o Rogério Valdeli, através de uma rede social e propus o projeto”, narrou Douglas.

E todo esse amor empenhado é de forma gratuita. “Tudo é custeado por mim”. E nesse empenho a formação fica para além da cidadania. “Eu tô buscando que essas crianças tenham oportunidade dentro do karatê, que sejam campeões, que consigam bolsas atletas, bolsa de estudos, e continuem dentro do esporte e colham frutos como eu colhi”.

Com toda essa história que reverencia a resiliência, altruísmo, dignidade, perseverança, é hora dessa ‘criança’ nascer. O projeto “Karatê na Comunidade”, para se efetivar no bairro de Camará, de forma constante, precisará de apoiadores e patrocinadores, porque a proposta do professor Douglas é expandir como ele menciona “já fiz vários campeões. O esporte salva vidas. O intuito do projeto é tirar as crianças da rua, promover uma cidadania e promover um futuro através do esporte”, completou o espírito de guerreiro.


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