A inauguração do muro acontece, hoje, às 19 horas, no bar Afonso Cláudio, em Vila Garrido com divisa com a Baixada de Alecrim, em Vila Velha.
Existem muros de preconceitos. Muros de guerra e muros de defesa. Mas existe um muro na Baixada Alecrim, em Vila Velha, que rompe com imaginários negativos e rabisca a arte de uma forma que comunica novas ideias e de quebra desperta os olhares da comunidade.
O projeto “Muros que mudam o mundo” é uma realização da Casa de Rabisco, um espaço cultural idealizado em 2016 pelo artista plástico e produtor Rodolfo Talles Pinheiro Birchler, 33. A proposta da arte é trabalhar uma disputa de imaginário territorial. Todo o trabalho foi concluído no período de dois meses. Nesta sexta-feira (14), haverá a inauguração do arte, no bar Afonso Cláudio, às 19 horas, na Baixada Alecrim, município de Vila Velha.
“O projeto nasceu de uma análise territorial que eu vinha fazendo no retorno pra casa. Eu via as zonas de descaso público e dos moradores como a de depredação, o de lixo, uso de pichações de fações… Tudo isso cria um imaginário do local. Por que o imaginário da favela tem que passar por descaso? Pensei em trazer imagens que trabalhem a ideia da favela sobre uma ótica de forma positivada; trazer os elementos imagéticos culturais sob um olhar de cuidado… de pensar pra frente”, explicou a origem do trabalho, o artista plástico.
A Casa de Rabisco é um espaço cultural pra possibilidades criativas de abarcar diversas linguagens. Está situada no bairro Alecrim, em Vila Velha. Para esse projeto colorido ganhar espaço no muro e no olhar da população, houve uma parceria empreendedora entre lojistas e artistas, ambos contribuindo para a mudança do mundo.
“Nos envolvermos em projetos sociais é uma forma genuína de demonstrar preocupação com a sociedade e de exercer sua responsabilidade social. Esperamos que com essas ações, outros lojistas possam se sentir incentivados a patrocinar movimentos semelhantes. Não basta apenas vencer na vida, precisamos compartilhar nossas vitórias com as outras pessoas. Além da mudança estética dos bairros, vemos uma mudança principalmente nas pessoas. Para mudar o mundo, primeiro precisamos mudar as pessoas”, disse George Alexandre De Aviz Santos, 21, do departamento de marketing da loja Germacol.
Outras parcerias também existem para impulsionar o projeto da Casa de Rabisco. A ABC Material de Construção e o Material Siqueira, são lojas de bairro, ponto positivo para alavancar o empreendedorismo cultural e local. Essa junção empreendedora, faz com que a economia criativa gire e expanda o trabalho autoral do artista. A obra de arte tem 100m² de beleza, cor, imagens regionais da cultura do Espírito Santo e muita esperança. “A gente criou três setores: um setor que era o universo, outro setor que era o manguezal e outro que é a favela. Coloquei um quarto setor, que não é pintura… Ficou com área interativa pra que as pessoas escrevam com giz”, explicou o artista plástico, Rodolfo.
O projeto conta com três idealizadores, Rodolfo Birchler, Elizeu Gomes e Jason Lamas, ambos fazem parte do mesmo espaço cultural, a Casa de Rabisco. “Bom, no início foi complicado de pegar… mas continuei no processo do mural… mas ali pela metade comecei apegar firme na pintura, certo. Aprendi algumas técnicas… consegui absorver bastante coisa no processo do mural… e com a galera do Casa não tinha como ser da hora, de ser divertido. A gente foi gastando, se conhecendo mais … acho que isso é da hora no processo”, contou Jason, um dos idealizadores do projeto.
Outra figura importante na construção do muro, que também contribuiu na idealização do mural, é o Elizeu, primo do Jason, formado em arte, que também faz parte da equipe do Casa de Rabisco.
“Gostaria de agradecer os apoiadores, quanto lojistas e pessoas que deram uma mãozinha. Foi um mural enorme. Éramos poucos, mas com tempo e paciência conseguimos concluir. O resultado foi importante pra mim. E também acho importante o retorno que a gente teve do público, porque enquanto a gente fazia a pintura, muitas pessoas da comunidade que passavam por ali elogiavam o trabalho e a iniciativa do projeto. Esse é o primeiro trabalho grande que eu faço como membro da Casa de Rabisco”, disse.
O muro pintando fica localizado na rua lateral do bar, que chama rua Albertina Xavier, a rua que desce pra Baixada de Alecrim. Na esquina, fica o bar do Waldemar, localizado na rua Três Irmãos, em Vila Garrido, por isso o histórico desse trabalho já tem um viés de romper com as divisas.
Entre tantas mãos que deixaram ideias registradas no muro, tem um personagem que se revelou como um verdadeiro coração solidário à arte e ao ser humano.” Eu liberei o espaço pra eles pintar (sic)… que na verdade esse negócio que nós tamo chamando de muro é a parede do meu bar que… Meu bar fica entre uma ruazinha pequena e essa parede fica ao lado da rua. Então eles pintaram a parede do bar. Aí ficou uma pintura muito bonita. Virou uma coisa da comunidade. Eu nem esperava que ia sair assim… Eu pensei que eles iam fazer coisa mais simples. Ficou muito bacana. Os caras têm muito talento escondido. Eles arrumaram um jeito de aflorar.”, explicou o Waldemar Holz, 57, comerciante – dono do bar Afonso Cláudio há 30 anos no bairro.
Parceiros pintores
Ao todo, cerca de 15 pessoas estiveram envolvidos na parte prática do projeto “Muros que mudam o mundo”. Os quatro integrantes da Casa de Rabisco fizeram as honras da casa. Entre outros participantes estão amigos, profissionais, pessoas com talento, sem talento. “Teve um cara que passou e disse que era pintor, ele era pessoa de situação de rua… Ele pintou a metade do muro de azul. E teve os adeptos a arte”, contou Rodolfo, o artista.
No meio dessa galera cheia de imaginações teve uma participação especial da amiga de Rodolfo, a Jô Silveira, artista Plástica., natural de Recife. “Bom, poder ter contribuído, minimamente, com a execução do muro, foi muito bacana! Foi minha primeira vez na Baixada. A essência do projeto me tocou. Poder pintar junto com artistas de gerações e culturas diferentes da minha foi muito positivo! Eu moro em Vitória há 3 anos, vi referências muito regionais daquele local, personagens identitários de uma juventude diferente da minha, cartoons japoneses, panela de barro capixaba, instrumentos musicais típicos daqui. Poder ver o orgulho dos moradores que passavam pelo local e viam a gente pintando um mural grande, numa via de passagem da garotada, que voltava da escola, e parava para apreciar o nosso trabalho, foi gratificante para mim”, narrou com satisfação a artista.
Todo esse projeto saiu do coração colorido de Rodolfo e depois maior elaborado pelos seus parceiros da casa de Rabisco. A ação artística moveu o social do bairro e ensina que visão de mundo é uma coisa subjetiva, e isso esses artistas possuem. “Eu sempre fui militante de causas sociais, sempre trabalhei com arte. Eu tava com desejo de criar um projeto com um viés social, mas sem cara assistencialismo”, disse o artista plástico.
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