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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! No próximo mês, o filme “Psicose” (Psycho, 1960)
de Alfred Hitchcok completará 65 anos, desde a sua estreia nos cinemas. O filme é
considerado um clássico do cinema, tendo recebido diversas premiações: melhor
filme, melhor roteiro, melhor ator internacional (Anthony Perkins), além do Oscar
nas categorias de melhor direção (Alfred Hitchcok), melhor atriz coadjuvante (Janet
Leight), melhor fotografia e melhor design de produção.
Somado a isso, temos uma trilha sonora que se encaixou perfeitamente ao filme, além
das impecáveis interpretações, tendo no elenco, além de Perkins e Leight, a atriz Vera
Miles, que também participaria da continuação “Psicose II” (Psycho II, 1983), o ator
John Gavin, que havia participado de filmes como “Imitação da Vida” (Imitation of
Life, 1959) e “Spartacus” (Spartacus, 1960), e o consagrado ator Martin Balsan, que
teve uma longa carreira no cinema, já tendo, na época, participado de filmes como
“12 Homens e uma Sentença” (12 Angry Men, 1957) e “Al Capone” (Al Capone,
1959).
Por não conter no filme elementos sobrenaturais, o filme é comumente considerado
do gênero suspense, em que pese o seu estilo sombrio, característico de um filme de
terror, tendo contribuído para esse estilo a sua ambientação, a fotografia em preto e
branco, a brilhante interpretação de Anthony Perkins e, é claro, a sua história, a qual,
na tela, é um tanto diferente dos eventos ocorridos no mundo real e que serviram de
base para o filme. Mais precisamente para o livro. Ainda assim, é possível traçar
alguns paralelos entre vida real e ficção.
Fiel ao livro
“Psicose” foi produzido e dirigido pelo lendário “Alfred Hitchcok”, tendo este
dirigido mais de 50 filmes, como “Janela Indiscreta” (Rear Window, 1954), “Um
Corpo que Cai” (Vertigo, 1958), “Os Pássaros” (The Birds, 1963) e “Frenesi”
(Frenzy, 1972). Não é à toa que ele conhecido como “O Mestre do Suspense”.
No entanto, quem escreveu o roteiro de “Psicose” foi Joseph Stefano, que mais tarde
produziria (também participando como coautor) a série para TV “The Outer Limits”,
série semelhante à “Além da Imaginação” (The Twilight Zone).
Por sua vez, o filme “Psicose” foi, como o próprio Hitchcock chegou a afirmar,
baseado inteiramente no livro homônimo de Robert Bloch. A semelhança entre livro
e roteiro é tão contundente ao ponto de Bloch ter recebido, junto com Stefano, o
prêmio Edgar Allan Poe Awards de melhor roteiro.
Pois bem, se a história apresentada na tela se configura quase como uma réplica da
história contada no livro “Psicose”, considerando que a história é baseada em fatos
reais, conforme mencionei, quais foram os acontecimentos, e as pessoas neles
envolvidas, que serviram de inspiração para que Bloch escreve-se o livro?
Base sinistra

O romance de horror psicológico “Psicose”, lançado em 1959, foi inspirado nos
acontecimentos envolvendo o assassino de Wisconsin, Ed Gein, cujos fatos
transcorridos não se comunicam plenamente com a história contada no livro e no
filme, porém é possível vislumbrar algumas conexões entre realidade e ficção.
Começamos com uma mãe, cuja base religiosa era focada no Antigo Testamento e no
Livro do Apocalipse e que, habitualmente, pregava para seus filhos sobre a
imoralidade, o mal da bebida e a crença de que todas as mulheres eram naturalmente
promíscuas e instrumentos do diabo. Essa era Augusta Wilhelmine Gein, cujo filho,
Ed Gein (Edward Theodore Gein), a idolatrava. Temos então uma forte ligação entre
mãe e filho, ao ponto do outro filho de Augusta, Henry, preocupar-se com essa união.
No filme, a ligação entre Norman Bates e sua mãe persiste até mesmo após a morte
dela, pelo menos por parte de Norman.
Apesar de possuir uma mercearia na cidade, George Philip Gein, marido de Augusta e
pai de Ed e Henry, a vendeu e foi morar com a sua família numa fazenda localizada
em outra cidade do Wisconsin, fato que propiciou a Augusta manter os seus filhos
isolados de pessoas que poderiam ter pontos de vista diferentes dos seus. A morte de
George por insuficiência cardíaca em abril de 1940, contribuiu ainda mais para a
proximidade entre mãe e filhos.
A questão do isolamento também é replicada no filme. Norman vive sozinho no hotel
(Bates Motel) que ele próprio administra e que raramente recebe hóspedes por se
situar um tanto afastado da rodovia.
A partir de um momento de sua vida, Henry começou a criticar duramente a sua mãe
perante o irmão, o que deixava Ed furioso. Em maio de 1944, Henry, aos 43 anos, foi
encontrado morto em meio a uma vegetação em chamas. Não havia sinais de
queimadura no corpo de Henry, e apesar de haver hematomas em sua cabeça, a causa
da morte foi dada como insuficiência respiratória. Uma autópsia nunca foi realizada e
anos depois surgiu a hipótese de que Ed teria assassinado o irmão, mas isso nunca foi
comprovado.
Como no filme, agora mãe e filho estavam sozinhos. Contudo, no ano seguinte à
morte de Henry, Augusta morreu após dois episódios de derrame, deixando Ed
arrasado. A partir de então, começa uma série de eventos que culminaria em mortes e
roubos de cadáveres, tendo Ed Gein como elemento central da história.
Quem era Ed Gein?
De acordo com professores e colegas de classe, Ed Gein era um rapaz tímido, como o
personagem Norman, e dava risadas em momentos inoportunos. Sua mãe, Augusta, o
punia quando ele tentava fazer amigos, o que remete ao fato da mãe de Norman
encontrar-se possessa de ciúmes, pelo menos na mente de seu filho, ao saber que ele
estava interessado em outra mulher.
Após a morte de sua mãe, Ed passou a se interessar por histórias macabras, tendo um
forte interesse no relato das atrocidades cometidas por Ilse Koch, que, embora
somente o seu marido possuísse um cargo oficial no regime nazista, era ela que
selecionava prisioneiros tatuados para morrerem no intuito de utilizar suas peles
como molde para abajures e outros objetos de decoração, cujo procedimento Ed
culminaria em repetir.
Os crimes de Gein
Em novembro de 1957, considerado suspeito da morte de Bernice Worden, dona de
uma loja de ferragens em Plainfield, Ed Gein foi preso. A polícia, então, resolveu
fazer uma varredura em sua fazenda, tendo encontrado, não somente partes do corpo
de Bernice, armazenados em sacos plásticos, como também o crânio de Mary Hogan,
outra vítima de Gein, além de ossos, órgãos e peles humanas femininas encobrindo
objetos e utensílios espalhados pela casa.
No filme, de forma análoga, Norman tem como passatempo o empalamento de
animais, o que também contribui para a sua atmosfera sombria.
Ed Gein confessou os assassinatos de Worden e Hogan, bem como a violação de
diversos túmulos, trazendo consigo corpos de mulheres recém enterrados que, em sua
maioria, possuíam uma certa semelhança com a sua mãe. Em uma das sepulturas, a
polícia verificou que Gein havia devolvido alguns anéis, evidenciando, assim como
no filme, que o criminoso não possuía qualquer interesse nos bens materiais de suas
vítimas.
A polícia fez uma lista de pessoas desaparecidas durante o período em que Ed Gein
cometeu os seus crimes, procurando atribuir a ele tais desaparecimentos, porém os
testes realizados, que incluíam um detector de mentiras, não constataram a
participação de Gein no desaparecimento de nenhuma daquelas pessoas.
Em face dos assassinatos, violações de túmulos e de suas práticas sombrias, Gein foi
julgado culpado pela morte de Worden, porém foi considerado insano, tendo o juiz
sentenciado que ele deveria ser internado num hospital psiquiátrico, onde ficou até a
sua morte por insuficiência respiratória, aos 77 anos.
No filme, é possível deduzir que Norman Bates passaria o resto de sua vida em algo
similar a um hospital psiquiátrico, o que, de certa forma, foi confirmado no filme
“Psicose II” (Psycho II, 1983), porém, diferente ao que ocorreu com Gein, Norman
volta ao convívio da sociedade após ser considerado “curado”.
Além da psicose
Ao alternar a sua personalidade com a da mãe, mesmo sendo um personagem de uma
história de ficção, é possível reconhecer que Norman Bates sofre de Transtorno
dissociativo de Identidade – TDI, também conhecido como transtorno de
personalidade múltipla, uma condição em que uma pessoa apresenta múltiplas
personalidades ou estados de identidade distintos.
Quanto a Ed Gein, em seu julgamento foi relatado que ele sofria de distúrbios
comportamentais, diagnóstico um tanto genérico, mas o suficiente para que fosse
determinada a sua internação em uma instituição psiquiátrica.
Apesar dos infortúnios ocorridos na vida de Ed Gein, da forte influência de sua mãe e
de ser considerado pela justiça como uma pessoa com sérios transtornos psicológicos,
os crimes e as ações repulsivas por ele cometidas não permitiram que a sociedade
estadunidense o desassociasse da figura de um serial killer, cuja sociedade ainda o
reconhece como “O Assassino de Wisconsin”, “O Açougueiro de Plainfield”, ou
ainda como “O Carniceiro de Plainfield”.
*O texto é de livre pensamento do colunista*
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