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Coluna Letrados
Por: Magda Simone – Professora de Língua Portuguesa
“O lugar onde eu vivo parece uma roça.
Tem passarinhos que cantam lá na beira da porta.
As pessoas que moram lá podem sair pra qualquer lugar,
porque lá não tem muro para nos segurar”.
Esses versos são de uma ex-aluna, de 2010, uma menina que devia ter uns 11 anos. Ela escreveu para atender a uma proposta, uma atividade sobre poesia. À época, eu não dei muita atenção, julguei seus versos simplórios, mas eu os guardei. O papel já havia se desgastado, mas fotografei e guardei. E, relendo hoje suas palavras, me senti tocada, pensando nos muros que nos prendem.
Passei a pensar no lugar onde eu vivo. Também tenho passarinhos cantando a minha porta. Mas tenho um muro. Sem ele, não sei se me sentiria segura. E mesmo esse muro alto, com cerca elétrica, não foi suficiente pra manter do lado de fora o perigo: minha casa já foi invadida e roubada.
As pessoas que moram perto, meus vizinhos, em sua maioria são gente boa. Não conheço um décimo deles; em geral, não compartilhamos dos mesmos interesses e tenho andado meio reticente em fazer novas amizades. Mas vivemos em relativa harmonia.
Essas pessoas não podem sair pra qualquer lugar, pelo menos não sem receio. Receio do trânsito complicado, numa avenida movimentada; receio de serem assaltadas nos arredores de casa, do lado de fora do muro. A sociedade atual está produzindo medo. Mas não podemos nos deixar dominar por ele. Precisamos de conviver, transpor os muros que nos limitam a viver
Derrubar esses muros invisíveis exige coragem. É desafiador abrir espaço para o outro, para a troca e para a convivência em um tempo tão marcado pela insegurança. Mas talvez seja nos pequenos gestos – um bom dia sincero, uma conversa com o vizinho, uma pausa para ouvir os passarinhos – que resida o antídoto contra o isolamento. Solitude, sim, solidão nunca!
Os passarinhos que cantam à nossa porta não se importam com muros. Eles passam por cima deles, como se nos lembrassem que a liberdade não é só uma questão de espaço físico, mas de postura diante da vida. Talvez, ao final, seja isso que os versos daquela menina de 11 anos nos ensinam: sempre há caminhos para além dos muros, se estivermos dispostos a enxergá-los.
“O texto é de livre pensamento da colunista”
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