Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39
Coluna Letrados / Música
Por José Salucci – Jornalista e CEO do Merkato.
O show “Wagner Canta Ney” se tornou um marco para a história da Biblioteca e Centro Cultural Carlos Corrêa Loyola, em Valparaíso. Na noite dessa sexta-feira (05), o cantor e ator Wagner Billó fez uma performance artística em tributo ao cantor Ney Matogrosso de forma carinhosa, sensual, vibrante, emocionante, celebrativa, contagiante e intensamente profissional.
O espaço cultural não tinha recebido nos últimos 10 anos uma realização artística expressiva, de envergadura. Menciono esse número por ser o tempo que resido no bairro de Valparaíso. Mas ampliando o termo, ainda não ouvi e nem conheci uma história em que o equipamento cultural e educacional tenha recebido um show profissionalíssimo, um espetáculo de renome, como o “Wagner Canta Ney”.
O público participou ativamente do show: cantaram, dançaram, aplaudiram, pediram música, tudo isso com um pouco mais de 70 pessoas presentes, em um espaço que é aconchegante, onde o artista e plateia ficam olho no olho.
Com seis instrumentistas e mais o cantor, mesmo em um palco aparentemente com medidas diminutas, Wagner e banda apresentaram um repertório de 13 canções com arranjos de pura energia, rítmicas de balada e encantamento. O cantor e ator se movimentou bem em cima do palco, desceu do palco e ficou no espaço entre o palco e o público, se movimentou para esquerda e direita, chamou o público pra cantar, no curto espaço, parecia que estava no espaço celeste, a estrela brilhou. O artista Wagner Billó deixou sua marca carismática e, claro, esse show merece se tornar trilha sonora em todo o Espírito Santo, que é o desejo dele, e, quem sabe se expandir para um projeto interestadual, o Billó tem alma pra isso.
O espetáculo “Wagner Canta Ney” é um projeto musical contemplado pela Lei de incentivo Fundo a Fundo – Fruição Cultural pelo município da Serra, com apoio do Governo Federal. A entrada foi gratuita.
Momento do show
O artista interpretou com mestria o espectro de Ney Matogrosso. Não foi um simulacro, mas sim uma ação de dança, canto, ginga, olhares, tudo envolvendo a memória do Ney, no corpo, voz e mente artística de Wagner. Depois dessa, só restou ao público reverenciá-lo, e, claro, o danado retribuiu ao público uma emoção, provocou aquele pensamento: valeu a pena vir nesse show. Que noite cultural!
O cantor abriu o show com a música “Sangue Latino” e em seguida interpretou “Fala”. Já foi um início evidente de que seria uma noite atrativa.
O artista, que gosta de quebrar ritos, como dito em entrevista ao Merkato, quebrou o rito de que na Serra não tem cultura artística de qualidade. Cuidaremos do nosso Billó! Ele tem sangue latino e por isso cantou “[…] Rompi tratados/Traí os ritos/Quebrei a lança/Lancei no espaço/Um grito, um desabafo”.
Depois dessa introdução no show, o público reagiu logo com aplausos, parecia esperar grandes atitudes do artista, estavam entusiasmados. Wagner, após as duas canções apresentadas, se manifestou com agradecimentos ao jornal Merkato e Tempo Novo por divulgarem o projeto. Agradeceu aos amigos presentes, ao público em geral. Destacou que a ideia do projeto veio de Aroldo Sampaio, sobrinho do cantor e compositor Sérgio Sampaio, logo em seguida, a trilha sonora da Música Popular Brasileira encheu aquele lugar com sua glória.
Com estilo piano bar, apenas voz e teclado, a apresentação deu sequência com a canção “Balada do Louco”, de Arnaldo Baptista e Rita Lee. A música foi lançada no disco Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets (1972), a música voltou a ser gravada por Ney Matogrosso, em 1986, no LP solo “Bugre”.
Nesse momento do show, me desliguei de ser um jornalista, que estava, ali, para cobrir o evento, porque há momentos que devemos experimentar, e foi isso, experimentei a arte vislumbrado com a voz de Wagner e sua interpretação. Quantas vezes me chamaram de louco por minhas ideias!!! Fui tocado pela arte naquele momento e continuar a ser louco, é assim que somos felizes.
A plateia, em absoluto silêncio e concentrada nos movimentos do artista, na suavidade com que ele interpretava a canção, pôde expressar seu sentimento com fortes aplausos e palavras elogiosas ao cantor, ao término da canção. Um orgasmo cultural! Eu sei que vão dizer que sou louco por afirmar que esse show é o maior da história da Biblioteca e Centro Cultural Carlos Corrêa Loyola. “Dizem que sou louco por pensar assim / Se eu sou muito louco por eu ser feliz” […]
Wagner também cantou “Poema”, uma de suas canções prediletas, momento do show em que a plateia observa o artista e senti o que a alma dele está dizendo. Entre outras canções que deram brilho ao show foi “Sorte”; o público cantou junto e Wagner “[…] Põe um sorriso na minha cara” / Wagner, você me dá sorte.
No momento de cantar “Homem com H”, a plateia se levantou e veio junto com muita alegria. O show teve sensações de raios, relâmpagos, humores, brisa, eram vários elementos da arte de forma simultânea sendo mencionados pela expressão artística de Wagner e banda, sem falar no arranjo de luzes.
O espetáculo teve uma virada de êxtase na hora do “Vira”. Tenta ouvir, leitor, a plateia cantando e saltitando, com um arranjo musical meio rock na hora do refrão. Entre tantas fusões de sentimentos, coube um voz e violão. A canção “O mundo é um moinho”, de Cartola, interpretado por Ney Matogrosso no álbum “Pescador De Pérolas” (Ao Vivo) de 1987, trouxe ao show de Wagner uma sensação que o artista sabe bem interpretar do furacão à brisa. Confesso que desejei estar, ali, no palco, dividindo os meus desejos com o público nas cordas do violão.
Entre a play list recheada de sucessos, não podia faltar “Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua”, de Sérgio Sampaio, que Ney regravou. A música emblemática foi lançada em 1973, em tempos de regime militar. O público cantou junto no refrão; um arranjo com pitada de Axé, evidenciou a bateria com uma batucada. Deu aquele sentimento de orgulho capixaba e poder ouvir nossa música registrada na história da MPB.
Wagner Billó concluiu o show com “Pro dia nascer feliz”, composição de Frejat e Cazuza, que Ney Matogrosso interpretou em seu nono álbum solo de estúdio, gravado em 1983 pela Barclay. O público veio junto, de pé, levantando os braços e batendo na palma da mão. Agora, esperamos que nasça um dia feliz para o Centro Cultural Carlos Corrêa Loyola.
E nesse contexto, ao entrevistar Wagner após o show, não só perguntei, mas afirmei a ele a minha opinião: o show “Vagner Canta Ney” se tornou um marco na cultura de Serra e para o equipamento como memorial, Wagner se expressou. “Primeiro, quero dizer que estou muito feliz com o resultado. Correu tudo bem, graças a Deus. O público participou cantando junto, vibrando, alguns chorando. Eu também me emocionei em alguns momentos. Eu espero que esse espaço seja, realmente, um foco de cultura, que as pessoas venham pra cá respirar arte. Que a noite de hoje seja uma semente plantada, que possamos, aos poucos, ir regando e que dê uma árvore cheia de frutos de dança, música, teatro, tudo que for preciso”, disse o artista que realizou o projeto “Wagner Canta Ney” pela terceira vez em Serra.
Institucional
A chefe da Biblioteca e Centro Cultural Carlos Corrêa Loyola, Fátima Nistal, 69, informou a reportagem que influenciou diretamente a reforma da Biblioteca. A carioca, radicada há 47 anos no ES, alcançou a marca de 22 anos de trabalho como diretora escolar no município de Serra. De acordo com a pedagoga, quando já aposentada, o prefeito Sérgio Vidigal a convidou para gerir o equipamento. Fátima conta a satisfação de ver o trabalho realizado.
“Eu agradeço de coração esse espaço cultural, que foi revitalizado ao meu pedido ao Dr. Sérgio Vidigal. Um espaço que estava desativado e que muitos moradores de Valparaiso e munícipes de Serra não sabem que ele existe, e os que sabem, não valorizam. De 2022 pra cá, a Biblioteca tem sido muita usada para formações da Sedu, da Sesa e de outras secretarias, além da parceria com o supermercado Extrabom, e atividades administrativas. O espaço, por ser muito bem localizado, as pessoas o procuram para utilizar para reuniões. Até o final de abril deste ano estará funcionando no andar de cima, o polo da UAB – Universidade Aberta do Brasil, polo Serra, com dois cursos de licenciatura”, informou.
A chefe do equipamento também comentou sobre o show, a atitude de renovação que ele trouxe para o espaço cultural. “Meu coração se alegrou muito nessa noite. Ficar de manhã até à noite, valeu a pena o trabalho. Acho que uma vez por mês deveria ter um show desse formato. Eu quero música! Eu quero mudar a cara dessa Biblioteca”, pontuou.
Produção musical
O músico Wallace Lopes, 31, é o produtor musical do projeto “Wagner Canta Ney”. “A gente teve o desafio de fazer 13 releituras de músicas consagradas”. Violinista e guitarrista da banda, o carioca é formado na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), no curso Bacharelado em Música Popular Brasileira com Habilitação em Arranjo. Wallace reside no ES há três anos, mora em Praia das Gaivotas, em Vila Velha.
O produtor musical fez alguns destaques do show, que já representa um amadurecimento de projeto para novos avanços. “O público participou de um jeito que eu não vi nas duas apresentações. Às vezes, a gente acha que precisa de cinco mil pessoas pra fazer um showzão… Eu sempre falo que o show é meio 50/50. É preciso a entrega do artista e da banda, mas também da plateia. Cinquenta veio da plateia, de cantar junto, de vibrar. Como a gente faz versões diferentes, eu notei que tinha surpresa das pessoas com alguma introdução diferente, aí quando percebiam a música, eu notava o entusiasmo do público. Participaram lindamente, cantaram tudo, até música que é menos conhecida eles cantaram. Não precisa de cinco mil pessoas pra fazer um bom show”, concluiu sorrindo.
Público
Corroborando a fala do produtor musical, uma família com duas irmãs e mãe, estiveram presentes pela primeira vez na Biblioteca de Valparaíso. Participaram com entusiasmo no show. Benedita Binda, 58, que é Terapeuta Holística, saiu do espetáculo encantada e relacionou um pouco da sua profissão ao tema da noite.
“O início do show, quando ele fala que acredita em Deus acima de qualquer coisa, aquilo tudo é o que a gente trás na terapia, a integração com o ser. O show trouxe isso, a integração daquilo que a gente precisa ter. Foi maravilhoso esse show! Todos deveriam assistir. Deveria se expandir para mais parte do estado”, disse a moradora de Redenção, Vitória.
A mãe Carmem Binda, que conhece as canções de Ney Matogrosso, disse com muita simplicidade. “Legal, o rapaz! Ele canta direitinho. Gostei da voz, do trejeito dele”, disse sorrindo.
Outro membro da família, a Lúcia Oliveira, filha da dona Carmem e irmã de Benedita, também pela primeira vez visitou o espaço cultural. “Foi maravilhoso! Ele interagindo com a plateia, foi muito bom”, disse a assistente administrativa.
Outra parte do público da Grande Vitória, que compareceu ao show, vem de Campo Grande, Cariacica. Fabiana Scamtarle Suim, 41, técnica de enfermagem, juntamente com o seu marido Leandro, atravessaram a Ilha de Vitória “vim prestigiar essa pessoa maravilhosa, que é Wagner Billó. O conheci cantando em barzinhos e me apaixonei por ele, simplesmente me apaixonei. Me desloquei de lá até aqui, porque não tem como, né? Valeu muita a pena. Ele se sente Ney Matagrosso”.
Agradecimento
O cantor Wagner Billó comentou a proximidade entre palco e público, “eu olhava muito para o público”. Enfatizou o calor humano mais evidente, se sentiu muito acolhido. “Era muito gostoso passar o olhar por todo mundo pertinho de mim e vê que eles estavam, realmente, curtindo o meu trabalho”.
Diante de tantas emoções, Wagner concluiu com os agradecimentos. “Quero agradecer a Deus; ao jornal Merkato; a Fátima, que me acolheu muito bem, a Prefeitura Municipal da Serra; a Setur, todo mundo que apoiou esse projeto para que ele acontecesse; os amigos meus que vieram curtir o meu trabalho; agradecer a todo mundo que entende que cultura é necessário pra viver bem. A gente precisa de arte”, concluiu Wagner Billó, que é formado na Escola Eduardo Fraga (TV e Cinema), em Copacabana (RJ).
Opinião
O projeto “Wagner Canta Ney” se tornou um memorial à Biblioteca e Centro Cultural Carlos Corrêa Loyola, bem como à cultura do município de Serra. O espetáculo está caminhando para amadurecimentos de performance, harmonia da banda e difusão da proposta do espetáculo paro o público.
Saliento, diante desse espetáculo cultural, que a MPB, como música singular, deve ser tratada com um olhar mais carinhoso pelo poder público e privado.
Notei que nenhum representante do poder público esteve presente no show. Nenhum vereador (a), até aqueles que tanto defendem a Arte e Cultura nos discursos da Câmara Municipal de Serra. Essa noite foi tempo de aparição. E, falando das personalidades públicas ausentes, destaco a ausência do secretário da Setur; deveria estar presente, como entre outros membros da Prefeitura e Câmara do Vereadores. Era noite de visitação, de reconhecimento, de estar junto ao povo, celebrando a cultura e o artista serrano.
Também quero destacar a ausência do presidente da Associação de Moradores de Valparaíso, o Rogerinho. Esse, deixou uma lacuna entre o seu eleitorado e, não é sensacionalismo de minha parte o que vou dizer: o líder da comunidade deve estar presente em eventos de grandeza em sua região. Foi eleito pra isso, parece que ele não dá muita importância para educação e cultura, duas pastas importantíssimas para gerar crescimento econômico. Tudo bem que o seu trabalho é coeso na comunidade, mas falhou em não aparecer para apoiar o evento. A Biblioteca de Valparaíso precisa de novos projetos culturais. Fica a dica, Rogerinho.
Para a mídia serrana, deixo meu pesar como jornalista e músico. O jornal Tempo Novo até divulgou uma notícia sobre o show “Wagner Canta Ney, porém, em um evento como esse, ainda mais perto da redação do jornal, era pra ter sido feito uma cobertura com fotógrafo e uma bela entrevista, isso chama-se apoio ao artista e valorização do jornalismo cultural. Também não vi outras mídias serranas e nem blogueiros, uma ótima oportunidade para jornalistas independentes mostrarem seu trabalho, foi assim que comecei, hoje sou CEO do jornal Merkato. Precisamos mudar a mentalidade, munícipes serranos!
Gostaria de concluir que, um espetáculo como esse, que tem total cacife de ser apresentado ao público capixaba no Teatro Carlos Gomes, no Centro Cultural Sesc Glória, entre outros espaços culturais da Grande Vitória e do estado do Espírito Santo, deve ser tratado com mais respeito, planejamento, efetividade e participação da parte do poder público, privado, entidades sociais e público.
Fica aqui o meu lamento em tom menor para a ausência da Setur e da liderança comunitária de Valparaíso. Em contrapartida, minha gratidão em tom maior para o projeto “Wagner Canta Ney”, um espetáculo, um marco na história da Biblioteca e Centro Cultural Carlos.
*O texto é de livre pensamento do colunista*
Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39
*Você também pode ler: Entrevista com Wagner Billó – vida pessoal, profissional, histórias e curiosidades.