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Entrevista/Boxe
Por: José Salucci – Jornalista e diretor do Merkato
O jornal Merkato está produzindo uma série de entrevistas sobre o grande evento de boxe “Falcão Fight 1”, que aconteceu no último mês de junho. Idealizado pelo pugilista Yamaguchi Falcão e pela empresária do ramo odontológico Natália Arantes. O evento conquistou o coração do público, de atletas, treinadores e empresários.
Na primeira entrevista, o Merkato conversou com Yamaguchi, medalhista de bronze, nas Olímpiadas de Londres, 2012. Na sequência da série, o entrevistado foi o capixaba Wagner Lyra, 42, o “Mutante”.
Além do idealizador do evento, estão sendo entrevistados os atletas que lutaram o card profissional e foram vencedores. E, continuando a dar voz aos vitoriosos, a entrevistada dessa vez é com a Isabella Costa Moyses, 40, a “Bella”, que enfrentou a lutadora Daiane Vieira, de São Paulo.
Bella, como é conhecida no ambiente do boxe, cedeu entrevista ao Merkato na academia em que treina: a Vitória Fighter, na Praia do Canto, que tem como dono, nada mais e nada menos do que Laécio Nunes, sete vezes campeão mundial de kickboxing.
Nesse ambiente de campeões, Merkato ficou encantado com uma Bella menina libriana, que é inteligente, simpática, lutadora, disciplinada, leva os amigos no coração, uma pessoa que se dá bem com todos e com uma bela história no boxe versus maternidade. Bella adotou em seu coração o menino Keno Marley, atual lutador da Seleção Brasileira de Boxe Olímpico, mas à época do encontro materno, Keno tinha apenas 15 anos de idade, e Bella nem lutava boxe. É uma história incrível! Venha ler e se admirar com uma menina de 40 anos de idade, com uma mulher de espiritualidade.
1 – Olá, Isabella! Pode se apresentar ao público.
Me chamo Isabella Costa Moises, tenho 40 anos, nasci e fui criada em Vitória-ES. Sou filha de Regina, uma empresária do lar (risos), porque toma conta de tudo, aquelas mulheres guerreiríssimas. E meu pai, o Schariff, um cirurgião cardíaco que abriu caminhos aqui no estado, pra mim, ele é o meu maior símbolo de campeão.
Sou formada em Direito pela FDV, no momento ocupo o cargo de assessora do presidente da Câmara dos Vereadores de Vitória, faço dupla jornada de trabalho: assessoria e o boxe. O Direito é minha razão, o boxe é minha paixão. Meus pés estão no Direito e minha cabeça está no boxe.
2 – E na sua infância e adolescência, que histórias têm pra nos contar sobre o esporte?
Eu sempre assisti esporte pela TV com o meu pai. O que ele assistia, eu estava junto, não porque amava aquilo, mas por causa do meu pai, então assistia as lutas do Mike Tyson, eu não tinha a dimensão do que representava o boxe.
Já minha mãe, levava o meu irmão para o judô, eu implorava pra minha mãe para fazer judô. Eu sempre gostei de esporte de contato, mas minha família é árabe e tem essa coisa de separar meninos e meninas (risos), então minha mãe disse que eu podia fazer balé, então eu disse que não queria e fui fazer natação. Entrei no Praia Tênis Clube, comecei criança, e aos 9 anos já me tornei atleta federada, e depois fui pro Álvares Cabral, até terminar o ciclo da natação aos 17 anos. Então, sempre fui atleta.
3 – Dos seus 17 aos 32 anos você disse que não praticou mais esporte, apenas frequentava academia e sentia que estava faltando alguma coisa. Quando percebeu que não conseguia mais ficar sem o esporte?
Foi em São Paulo, em 2007, quando fui fazer mestrado em Direito Tributário, na PUC. Trabalhei de advogada um tempo, comecei a estudar pra concurso e reprovei por 0,01 (décimo) no concurso do Ministério Público. Ali, eu achava que o mundo estava contra mim, eu quase fiquei depressiva, via todo mundo passar em concurso, menos eu. E, hoje, tenho certeza que Deus me deu um livramento, porque eu não estaria feliz lá, mas só hoje consigo enxergar isso. E nessa fase triste, eu namorava um rapaz que lutava boxe, ele até lutou em um evento tradicional em SP chamado Forja de Campeões.
À época, eu treinava em uma academia que tinha aulas de funcional figth, só para perda calórica, mas ele falava que eu tinha que fazer outra coisa. E, um dos professores, também falou isso pra mim, que era pra eu procurar uma luta séria.
Então, meu namorado, à época, me levou em um projeto social de boxe na Zona Sul de SP, o Tony Boxe – é um treinador de boxe, ex-atleta, cuidava de crianças e adolescentes carentes -. Me encantei com o projeto, comecei a treinar, eles me ajudavam nos treinos.
4 – Nesse momento você conhece o Keno, correto? Então quem te levou pro boxe foi um ex-namorado. Lá, você conhece o Keno, que se torna seu filho. O amor te levou ao boxe, e o boxe te fez conhecer um outro tipo de amor, conta essa história pra gente.
Todos os meninos do projeto eram maravilhosos. Todos eles me chamavam de madrinha, mas quando eu olhei pro Keno, ele tinha 15 anos, eu falei: esse menino é meu! Eu acho que eu e o Keno somos de outras vidas, é surreal. Quando eu olhei pra ele, eu pensei: esse menino é meu. Peguei pra mim mesmo. Eu me senti mãe naquele momento. Eu nunca tinha sonhado em ser mãe e não sou mãe biológica.
Eu acho que foi um sopro de Deus, essas coisas não são por acaso. O Keno foi uma junção de anjos da guarda tomando conta, o Keno mudou a minha vida, a forma de enxergar o mundo. Eu movo o mundo pra resolver alguma coisa pra ele. O Keno é a minha joia mais preciosa da vida. O boxe trouxe muita alegria pra mim, o boxe me deu o Keno, e ele mudou o meu jeito de ver o mundo, de amar. Eu sinto amor de mãe por ele. Eu me considero a mãe dele. Keno é maravilhoso! Hoje ele é primeiro no ranking mundial, vai pra Olímpiadas de Paris… Falar de boxe, é falar do Keno.
5 – E diante disso, como foi a virada de chave da sua vida para se tornar lutadora de boxe?
O projeto social só tinha atletas. Então, eu conheci o boxe já conhecendo atletas. Eu me propus a aprender aquilo. Eu ficava em frente ao espelho na minha casa aprendendo pular corda, a posição do jab. No início me trataram como se eu não fosse aprender o boxe, comecei depois dos 30 anos, com cara de patricinha.
Mas foi na academia Orion que eu conheci o Beto e o Michel, os dois me abraçaram no boxe. E, hoje, eu represento a Orion, eles não puderam vir no Falcão Fihth, mas assistiram os vídeos e fizeram as devidas considerações. Eu aprendi o boxe profissional com eles.
Na Orion, aprendi a técnica, as passadas do boxe, porque boxe não é braço, é perna. Esse jogo de pernas no boxe a Orion trabalha com excelência. E tratando de sentimento, a Orion, pra mim, cada um deles personificam a definição ideal de família.
6 – E seu boxe, é de resistência, de velocidade, de agilidade, de pensamento rápido?
Eu me considero… (silêncio) … ai, ai… Eu me considero uma boxeadora disciplinada (risos). Eu não consigo ainda me definir. As pessoas falam que eu tenho a mão pesada, eu acredito nisso mesmo. Mas uma mão pesada apenas, não ganha luta. Você tem que ter outras coisas. Essa do pensamento rápido, o Yamaguchi tá me ajudando muito, a visão dele de atleta é completamente maravilhosa! E, assim, com pouco tempo de treino com o Yamaguchi, eu já mudei pra melhor. Eu treino aqui na Vitória Figther, ele vem dar aula aqui. Eu tenho a Orion e o Yamaguchi como referência.
7 – Depois de se apresentar para o público, contar um pouco de sua história e seus talentos, vamos falar do Falcão Figth e da sua relação profissional com o Yamaguchi. Como é ter o Yamaguchi como referência no boxe?
É uma honra, né! E uma responsabilidade. Quando eu comecei o boxe, eu pesquisava e fiquei fascinada pela história dele. O cara é medalhista olímpico. É um excelente atleta!
O Yamaguchi fala que meu boxe é muito alinhadinho, que parece que eu treino desde sempre, mas tem que trabalhar a mente. Não se assustar com o golpe, na hora da luta não se assustar porque a adversária tá vindo, é saber pensar na hora da luta. Porque o golpe, o que tem que fazer a gente sabe, só que no momento de tensão, de estresse, o cérebro parece que bloqueia isso, então a gente tá treinando isso, e nessa parte ele é incrível. Ele consegue passar umas dicas e bons ensinamentos.
8 – Você já tinha um relacionamento com a família Falcão, me conta.
Eu comecei a treinar boxe com o Luciano, o caçula deles. Depois treinei com o Tunny, depois com o Thomaz e agora o Yamaguchi, só não treinei com o Esquiva. De cada um, eu peguei uma boa bagagem, uma dica a mais. Eu me considero uma Falcão, uma Bella Falcão. Além disso, em diversos treinos ainda tinha o Touro Moreno me dando várias dicas.
9 – E o que você tem a destacar do evento “Falcão Figth 1”?
Foi o primeiro evento de boxe profissional feito no estado, e eu, sendo a primeira mulher boxeadora profissional do estado, participando do primeiro evento de boxe profissional, é uma realização.
No evento, eu pontuaria que o Yamaguchi fez tudo aquilo que um dia ele quis que fizessem por ele. E, o Yamaguchi é boxeador profissional, ele sabe qual o perrengue de estar ali. Ele tentou deixar tudo perfeito para o atleta não passar nenhuma dificuldade. Para o atleta chegar lá e lutar.
10 – Vamos falar da luta. O que achou da adversária e como avalia seu desempenho?
Foram seis round a luta, cada um de dois minutos. Vitória por ponto, por decisão unânime, mas a adversária é muito boa.
Depois da luta o treinador dela veio me falar que, tinha traçado a estratégia errada pra me vencer. Porque ele achou, pelo fato da minha idade, eu iria morrer no terceiro round. No gás ninguém me ganha não. (risos).
Na luta, me senti muito confiante. Não menosprezando a adversária, mas confiante pelo trabalho feito.
Como eu disse, foram seis rounds, pra mim se fossem 10 rounds seria melhor. Eu sinto a minha evolução de round a round. Eu fui entrando na luta. E outra coisa, mesmo ela tomando golpe, ela andava pra frente, então é uma atleta que não tem medo de tomar golpe. É nessa que, às vezes, a gente pode perder a luta, né! Se entra um golpe dela em mim, então eu tive que trabalhar isso.
11 – E quando saiu o resultado de vitória unânime, qual foi sentimento?
De trabalho feito, de trabalho realizado. Realmente, valeu a pena tudo que foi treinado, o cansaço absurdo, ter passado fome no dia anterior para bater o peso (risos).
12– Deixa uma palavra para o “Falcão Figth 1”.
Eu quero participar do segundo, do terceiro, do quarto, em todos os cantos do Brasil que tiver o evento. Podem me convidar que eu topo na hora. E a palavra que eu tenho é que, quem idealizou o Falcão Figth foi uma pessoa muito especial, que é atleta e agora tá fazendo o evento esportivo.
Então, o que ele mais valoriza, o que ele mais pensa é no atleta, e é isso que falta nos eventos. O ator principal disso tudo é o atleta, e ele tem que ser valorizado. Então, o Yamaguchi tá de parabéns! E, se Deus quiser, a gente vai ter o Falcão Figth espalhado em todo o Brasil.
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