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Coluna Letrados
Por: Magda Simone – Professora de Língua Portuguesa
Nem bem terminei a leitura do livro “A menina da montanha” e já estou aqui escrevendo sobre ele.
O livro é um relato autobiográfico. Narra a trajetória da autora, Tara Westover, que pisou pela primeira vez em uma sala de aula aos 17 anos e conquistou o doutorado em Cambridge. Após ter sido educada em casa, pela mãe, Tara se redescobre, por meio da educação.
Mas não se iluda pensando que a história se resume a isso. A leitura nos faz mergulhar muito mais fundo em vários sentimentos e atitudes humanos: relações familiares, fanatismo religioso, síndromes e questões mentais, entre outras.
Pra mim, o que mais marcou foi a reflexão sobre até que ponto nossas relações estão rodeadas de pessoas tóxicas, que teimam que o que fazem é por amor. Não pensamos muito sobre como afetamos e somos afetados pelas pessoas que nos rodeiam. Nem sempre refletimos sobre como nossas crenças e ações influenciam nossos filhos, nem sobre como, em nome do amor, impomos aquilo em que acreditamos a eles e como isso afeta seu futuro.
No livro, a autora narra sua história, contando sobre sua relação com a família: pai, mãe e irmãos. O pai fanático acredita piamente que somente sua família segue perfeitamente os preceitos de Deus. O resto do mundo é composto de “gentios”, pecadores que já tem garantido seu lugar no mais profundo abismo infernal. Em nome disso, ele priva seus filhos de muitos direitos, entre eles, o direito a uma educação realmente efetiva. Os filhos recebem os ensinamentos básicos em casa, depois tornam-se seus empregados, em trabalhos pesados e extremamente perigosos.
Pensei muito na proposta de homeschooling, ou educação domiciliar, que andou nos rondando há pouco tempo. Infelizmente, ainda há pessoas que acreditam que privar as crianças do convívio escolar é uma opção. Quem lê o livro, tem apenas uma leve noção do que isso causou à autora. Quando, aos 17 anos, ela passou a frequentar as aulas na faculdade, havia perdido parte de sua vida, tinha pouca noção do mundo a sua volta e penou para se libertar de convicções e crenças que não eram dela, mas que foram passadas a ela por toda uma vida.
“Essa mudança do eu pode ser chamada de muitas coisas. Transformação. Metamorfose. Falsidade. Traição. Eu chamo de educação.”
É assim que Tara fecha sua narrativa, mostrando que foi por meio da educação que ela se transformou, se libertou das amarras de uma vida limitada, de uma prisão mental à qual foi mantida até os 17 anos. Aos 27, com o doutorado, ainda se questionava sobre suas escolhas, mas já compreendia que precisava viver isso: estar com pessoas, interagir, ouvir os outros, questionar, criticar, ler, conhecer, ir além da montanha.
*O texto é de livre pensamento da colunista*
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