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7 de dezembro de 2024

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“A gente vê graduações chegando pelo Sedex!”

Mestre Paulista pratica capoeira há cerca de 50 anos. / Foto: Divulgação.

Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39.


A série “Capoeira Capixaba: relatos e vivências” apresenta Siloé da Conceição Barros. Nascido em Paracatu (MG), em cinco de novembro de 1965, porém criado na cidade de São Paulo, o menino cresceu em uma favela, onde teve contato com a capoeira.

Curiosidade do ano de seu nascimento, foi em 1965 que o Grupo Senzala introduzia a corda na capoeira, com o intuito de criar as graduações. A ideia da escolha da corda foi para não imitar a faixa usada pelas artes marciais orientais.

O menino mineiro, mas com identidade paulista, ingressou na capoeira aos oito anos de idade, em 1974, ano do falecimento do Me. Bimba.

Em dias atuais, Siloé Barros têm 57 anos de idade. É o vice-presidente da Federação de Capoeira do Espírito Santo (Fecaes); reside no município de Itapemirim-ES, onde trabalha na Associação Desportiva e Cultural de Capoeira Navios de Angola, fundada por ele. Seu trabalho na capoeiragem rodou o Brasil e alguns lugares do mundo. Grécia, Noruega, Itália e Portugal foram países visitados por ele para a disseminação da cultura capoeirística.

O mestre que vem aí, também pertence a cadeira número 72 da Academia de Capoeira Letras Ciências e Cultura, em Juatuba-MG, inclusive, outra curiosidade, na data de seu aniversário, também se comemora o “Dia da Ciência e Cultura”, um predestinado. Batizado a mestre desde os anos 2.000, pelo Me. Barbosa, ainda vivo, a capoeiragem irá conhecer a vida, as opiniões fortes, os conselhos e os arrependimentos do Mestre Paulista.

Entra na roda, leitor!

1 – Mestre Paulista, seja bem-vindo a essa entrevista! Me fale da sua memória da infância e aquilo que seus pais deixaram como legado pra você.

Eu fui registrado em Paracatu, mas a minha infância toda foi em São Paulo. Eu fui criado em São Paulo até meus 22 anos de idade em uma favela chamada Vila dos Pescadores…

A minha mãe conta a história que ela é prima primeira de lampião, então ela tinha um gênio muito rígido, mas ela presava pra nós sempre a disciplina e a educação em primeiro lugar. E isso é um legado que eu trago da minha mãe e do meu pai: a educação, a disciplina e a honestidade.

Outra coisa que me lembro… Dentro da favela quando a maré enchia… Lá era tudo barraco de madeira… Quando essa maré enchia, a gente ficava brincando dentro dessa água, que era mangue… A gente ficava brincando, ali, no meio da lama… Eu lembro uma vez que eu estava dormindo… Minha mãe tinha saído e quando a maré encheu… encheu dentro do barraco… eu tava deitado e a maré acabou me levando… eu estava dormindo… os vizinhos me pegaram… essa coisa ficou na memória. (risos)

2 – Qual é a sua profissão, e com o que já trabalhou?

Minha primeira profissão foi de ajudante de montador industrial. Com 19 anos eu estava trabalhando num porto fazendo montagem de navio. Depois trabalhei como pintor. A partir daí, eu trabalhei no porto como doqueiro e depois comecei a trabalhar na Polícia Civil… fiquei 10 anos… pedi dispensa. E hoje eu sou microempreendedor.

3 – Como você conheceu a capoeira? Qual o encanto que te chamou atenção?

Eu conheci a capoeira próximo aos 8 anos de idade. Foi em 1974, quando eu vi na favela onde eu morava, né? Era num projeto que funcionava vários cursos profissionalizantes… a partir deste momento eu não parei mais. Tô até hoje… completando aí… quase 50 anos de capoeira. E o que mais me chamou atenção foi, justamente, o toque do berimbau. Acabei ouvindo o toque do berimbau… Eu ficava batendo na lata de leite quando eu ouvia o berimbau. Quando ele toca, quando ele chama, não tem jeito. Vai na alma! (risos).

4 – E na hora do jogo, você é mais capoeira Angola, Regional ou Primitiva? Que tipo de capoeirista você se considera?

Não me considero da Regional e nem me considero da capoeira Angola, eu sou da capoeiragem, do tempo da capoeiragem, né? A capoeira Primitiva. Onde tiver o jogo, eu vou jogar. Vou brincar, vou vadiar uma boa capoeira. Eu não tenho essa coisa comigo de dizer: ‘Sou Regional, eu sou angoleiro’. Eu sou da capoeiragem, eu sou da capoeira Primitiva.

“Dinheiro nenhum me compra. Tudo que eu aprendi eu tive que correr atrás”. / Foto: Divulgação.

5 – Me conta sua origem na capoeira, seu mestre, seu grupo.

Desde a minha infância eu só tive dois mestres de capoeira, não eram mestre na época… Eu comecei a capoeira com um rapaz, ele não era graduado, mas ele começou esse trabalho lá na favela… lá eu conheci o grupo de capoeira desse rapaz.

Nesse grupo tinha duas pessoas que me chamaram atenção pelos saltos, pelos floreios, pelas trocas de movimentos que faziam. Esses dois rapazes moravam no bairro perto da minha favela. Um dia eles saíram do grupo que eles pertenciam, eu também fazia parte desse grupo… Eles criaram um grupo de capoeira chamado “Centro Cultural Nagô”, que depois passou a se chamar “Brasil Folclore”. E essas pessoas que tava comigo, que eu estava junto na criação do grupo… hoje eles são os meus mestres. Eles se chamam Mestre Barbosa, que mora em SP, e o Me. Luiz, eles são irmãos. Eu sou formado pelo Me. Luiz, mas o responsável por mim, diretamente, ficou o Me. Barbosa.

Eu nunca saí do grupo desde a minha infância. Isso é coisa rara. As pessoas hoje treinam, entram nos grupos, e quando pensam que não, ele já tá em outro, e na realidade acaba sendo pai sem filho. Eu comecei com eles, estou com eles até hoje, mas há dois anos atrás eu carrego a minha bandeira por permissão dos meus mestres.

Hoje eu estou aqui à frente do meu próprio grupo, há dois anos chamado de Associação Desportiva e Cultural de Capoeira Navios de Angola, na cidade de Itapemirim-ES.

6 – Agora vamos entrar em um assunto mais institucional da capoeira. A Lei Alcebíades Cabral, nº 11.397/2021, que reconhece a capoeira nos estabelecimentos de educação básica, públicos e privados, qual é a sua análise?

Eu acho uma lei bacana, mas há controversas. Essa lei diz que o capoeirista, para estar dentro da escola, não precisa de falar nada com a Federação… de ser filiado a ela. A capoeira tem um representante legal no Espírito Santo. A Fecaes tem a obrigação de qualificar o capoeirista, e essa Lei diz que o capoeirista pode dar aula nas escolas sem fazer parte da Federação.

A Lei tem seus lados bons e seus lados ruins. Eu trabalho com Pessoa Com Deficiência – PCD – não sou graduado para lecionar capoeira para esse público… então eu me beneficio dessa Lei… acho que a gente tem que melhorar as leis da capoeira e ajudar todos os capoeiristas… lutar pelos mesmos ideais… A capoeira tem que ter sabedoria teórica, tem que ter conhecimento. Fazer Lei pra política aí fica complicado.

7 – Me conta da sua chegada no ES e seu trabalho na capoeira.

Tá fazendo 40 anos que estou aqui… Foi uma chegada assim meio turbulenta em relação a capoeiragem… Meu nome no ES foi feito de forma ruim, porque onde eu chegava nas rodas de capoeira, eu arrumava problema, em qualquer grupo de capoeira. Eu era problemático mesmo, quem tinha capoeira eu queria testar. Os mestres mais velhos aqui do estado sabem disso e estão aí pra contar as histórias.

Lá em São Paulo, o apelido do capoeirista é dado por causa do seu sobrenome, mas aqui no ES você recebe o apelido pelo que você faz. Então todos os lugares que eu andava, andava bagunçando… o povo começou a falar: “Chegou o Paulista”!… O finado Me. Cabral, que era o presidente da Federação à época… fui na academia dele pra bagunçar e a partir desse momento ele acabou colocando o meu apelido de Paulista. Eu queria ter chegado no ES e ser visto como uma pessoa do bem pela sociedade capoeirística… então hoje eu não me sinto bem quando se trata do meu apelido…

…Minha chegada no ES… Meu pai comprou uma casa em Vitória… Eu fui visitar um grupo de capoeira que tinha lá no bairro São Pedro e esse grupo de capoeira era apoiado pelo Me. Cabral. O professor que estava lá tava cansado de apanhar porque os grupos que tinham na época iam lá e quebravam todo mundo… bagunçava tudo, e eu, automaticamente, gostava do negócio.

No dia em que eu estava lá, chegou um grupo de capoeira, bem famoso aqui do estado, e chegou lá pra fazer graça e acabou tendo problema, porque eu entrei pro problema, defendi o povo lá e a partir desse momento o rapaz lá fez igual fizeram com o Me. Pastinha, né? O Pastinha chegou numa roda de capoeira e acabou que as pessoas entregaram a roda de capoeira pra ele assumir. Mesma coisa eles fizeram comigo. O rapaz entregou a academia dele nas minhas mãos e a partir daquele momento eu passei a dar aula de capoeira.

8 – A formação dos capoeiristas no Espírito Santo te agrada ou estão formando mestres e mestras de qualquer jeito?

Eu vejo que, antigamente, as graduações eram menos, mas ela tinha sinceridade. As pessoas treinavam… e… quando pegavam uma graduação… pegava pelo merecimento de sua graduação… O nome mestre de capoeira tá banal… tá defasado.

Eu costumo dizer que tem muitas graduações brancas e mestres, e que tem ‘o mestre’. Existem muitos mestres de capoeira, agora encontrar ‘o mestre’ de capoeira, é difícil, porque as pessoas se formam hoje por causa do dinheiro… Sem conhecimento.

Eu tenho que tomar conta da minha casa e deixar que cada um tome conta de sua casa e cuide de seus filhos da melhor forma possível. Então se eles acham que os filhos deles estão sendo criado da melhor forma possível, não sou eu que posso aqui fazer nenhum tipo de questão em relação a criação dos filhos deles. Os meus filhos, para se formarem a mestre, contramestre, professores eles têm que passar por vários quesitos… que eu não vejo nada acontecer nos dias de hoje.

As graduações estão vindo muito banais… A gente vê graduações chegando pelo Sedex, pessoas graduando a mestre aí por dentro de casa, enfim, a gente vê cada coisa absurda. Tem pessoas que ofereceram terreno, casa, carro do ano pra que eu os formasse a mestres, mas eu não faço isso de forma alguma.

Dinheiro nenhum me compra. Tudo que eu aprendi eu tive que correr atrás. Então eu tento ensinar da melhor forma possível pro aluno andar e correr o mundo.

O Mestre Paulista realiza trabalhos com a capoeira no seu próprio projeto: Associação Desportiva e Cultural de Capoeira Navios de Angola. / Foto: Divulgação.

9 – A musicalidade na capoeira é algo sagrado. O que você entende que um mestre precisa de ser nessa área?

Eu vejo mestres que não tocam, eu vejo mestres que não cantam, eu vejo professores que dominam muito os três berimbaus, eu vejo mestres que não conhecem os três berimbaus, então hoje a gente vê de tudo.

O berimbau está tocando uma coisa e a pessoa está cantando outra, só que nós mestres de capoeira mais velhos nós não temos nem o direito de falar que a pessoas tão erradas, porque eles se acham os conhecedores da história, né? Se o toque tá pedindo uma coisa, os caras tão cantando outra. Se o toque tá pedindo um corrido, os caras tão na benguela, então é muito complicado.

Eles estão cantando músicas de desafios nas rodas de capoeira sem o conhecimento, sem saber o que tão fazendo, então assim, eu vejo hoje uma falta de conhecimento terrível! Estão matando a capoeira! Estão matando a nossa história, a nossa arte!  Eu vejo desta forma.

O que importa é a capoeira. O que importa é jogar capoeira. Na minha casa isso não vai acontecer, eu corrijo, mas na casa do outro, eu não posso mandar.

10 – Deixa sua palavra final como vice-presidente da Fecaes.

Eu, na qualidade de vice-presidente, quero dizer aos capoeiristas que acreditem, que confiem na Federação, que vai ter recado, que vai ter resposta para todos dá melhor forma possível. O que pudermos fazer pra ajudar o capoeirista, a Federação estará aqui pra ajudá-lo de forma geral.

Quero deixar aqui um forte abraço pra todos os capoeiristas. Quero agradecer ao jornal, que você continue nessa batalha… a capoeira precisa de pessoas assim como você, pra que possa dar uma levantada no brilho, no olhar dessas pessoas que sigam mais à frente. E também quero dizer que tenho uma cadeira na Academia Brasileira de Capoeira Letras Ciências e Cultura, na qual eu também sou embaixador da cultura afro-brasileira, então posso falar com um pouco de prioridade.


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