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Cultura/Capoeira
Por: José Salucci – Jornalista
Memória, registro, materializar a cultura. É com esse propósito que capoeiristas capixabas estão reunidos neste fim de semana, em Cachoeiro de Itapemirim, região Sul do Espírito Santo, no Hotel Caiçara, para construir o 3º Encontro Estadual de Salvaguarda da Roda de Capoeira e Ofício das Mestras e dos Mestres de Capoeira no Espírito Santo. O evento cultural acontece entre os dias 31 de janeiro e 02 de fevereiro.
O evento reúne mestres, mestras, contramestres, contramestras e professores de capoeira. Também participam do evento gestores públicos e agentes culturais, com o intuito de construir, formular e consolidar o Plano de Salvaguarda do bem cultural no estado do Espírito Santo.
Na abertura do evento, houve uma homenagem à Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, que na ocasião, recebeu um certificado das mãos do historiador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Filipe Oliveira.
Na ocasião, o presidente da associação Bruno Fajardo Lima, que é Mestre de capoeira, residente em Cachoeiro, recebeu a homenagem pela associação ter conquistado, em dezembro, de 2024, a 37ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, com a ação patrimonial intitulada “Trilhas do Quilombo Monte Alegre”.
“O prêmio é de âmbito nacional. Foi a primeira vez, em 37 anos de existência do prêmio, que uma entidade do ES foi contemplada. Monte Alegre é uma comunidade quilombola no interior de Cachoeiro de Itapemirim. Lá, a associação exerce um trabalho de salvaguarda dos saberes dessa comunidade quilombola. Fizemos um trabalho de preservação da prática do caxambu, como cultura identitária da população de matriz africana presente no Brasil”, disse o presidente Bruno.
Secretaria de Cultura e Turismo
A secretária municipal de Cultura e Turismo, de Cachoeiro de Itapemirim, Larissa Patrão, fez parte de uma das falas na abertura do evento. A gestora pública discursou a importância da cultura popular da capoeira. Ela enalteceu o trabalho e o valor dos mestres e mestras no que tange a preservação das tradições.
“Quando eu era criança, eu via muita roda de capoeira na cidade, hoje eu não vejo mais. A Secretaria de Cultura quer trazer de volta, dizer que a gente está apoiando. Estamos de portas abertas para receber o movimento da capoeira”, disse.
Larissa, natural de Cachoeiro de Itapemirim, que atua em sua primeira gestão pública, reforçou o compromisso que a Semcult quer assumir com a capoeira no município de Cachoeiro. A reportagem perguntou à gestora quais seriam os espaços públicos que a capoeira pode começar a ser praticada, para se tornar visível à população cachoeirense, a secretaria respondeu: “Eu vejo dois pontos: o primeiro é a Praça de Fátima, e, eu tenho uma sensibilidade com criança, eu acredito que os colégios seriam um espaço muito bacana para a capoeira”, pontuou.
Pauta do evento: objetivo, conceito e salvaguarda
Na abertura do evento, houve uma rodada de apresentação dos participantes. Destaque para Edineia Conceição de Oliveira, gerente da Gerência de Estado de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (GEPPIR), que sinalizou a importância da integração dos entes federativos para a igualdade racial.
Em seguida, o Mestre Fábio Luiz, professor de educação física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), pontuou seu início de trabalho na década de 1980 com a capoeira, no ambiente universitário.
Outro destaque da noite, a única mestra presente, Patrícia Aparecida da Conceição Ladislau, conhecida como Mestra Ligeira, residente em Cachoeiro de Itapemirim, pontuou os desafios do gênero feminino na capoeira, exemplo: alcançar a mestria e dos preconceitos vividos em relação ao manuseio dos instrumentos musicais, como o berimbau.
Finalizando as apresentações, o historiador Filipe Oliveira, mediador do evento, apresentou a proposta de pauta de formulação do Plano de Salvaguarda da Capoeira no Espírito Santo.
Na segunda parte de seu discurso, o mediador elencou as ações desenvolvidas pelo IPHAN, na Salvaguarda da Capoeira, no biênio 2023/2024. Por fim, alinhou-se o planejamento das ações de 2025, que são: A) editoração, diagramação gráfica e impressão do Plano de Salvaguarda, B) Ciclo de Oficinas Regionais – Capoeira, Memória e Ancestralidade e C) Curso de elaboração e gestão de projetos culturais.
Filipe Oliveira conversou com a reportagem e esmiuçou as ações previstas. “Ao concluir o evento, espera-se editar, diagramar e imprimir o Plano de Salvaguarda, no primeiro semestre, de 2025. Com esse material impresso, o IPHAN prevê a distribuição do documento em ciclos de oficinas regionais, ou seja, o IPHAN irá percorrer cidades do ES que são negligenciadas de políticas culturais, para divulgação do material elaborado no 3º Encontro Estadual de Salvaguarda da Capoeira”, explicou.
De acordo com Filipe, a parte (C), citado no texto acima, o curso de elaboração e gestão de projetos culturais, destina-se a capacitação de detentores ao acesso de editais públicos, principalmente neste momento de formulação de articulação com a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), que envolverá diversos municípios do estado.
Conceito
O historiador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Filipe Oliveira, para esclarecimento ao leitor, explica a utilidade de um Plano de Salvaguarda de bens registrados, como patrimônio cultural brasileiro.
“O plano é um instrumento de gestão compartilhada do patrimônio cultural, com ações e propostas para proteger o bem cultural. O documento servirá de guia para a implementação de políticas públicas, e em geral, é estruturado nos eixos de: mobilização social e alcance da política, gestão participativa, difusão e valorização cultural e produção e reprodução cultural”, explicou.
De acordo com o historiador, as discussões, que acontecem nesses anos, são feitas por nove grupos de trabalho temáticos.
“Esses grupos fazem o diagnóstico e propõem as ações. Há temas como ‘Capoeira esporte’; ‘Profissionalização da Capoeira’; ‘Captação de Recursos’; ‘Memória dos Mestres’; ‘Mulher na Capoeira’, entre outros, concluiu.
Histórico de Salvaguarda no ES
Antes do reconhecimento como Patrimônio Cultural Brasileiro, em 2008, a capoeira já exercia diferentes ações de continuidade de suas práticas culturais. Com a proteção estatal, foram desenvolvidas iniciativas de Salvaguarda, tais como mapeamentos e composição de coletivos deliberativos.
De acordo com Filipe Oliveira, no estado do Espírito Santo, as pesquisas de identificação se iniciaram em 2014. Entre 2016 a 2018, foram socializadas essas informações no Norte, Sul e região Metropolitana do estado do Espírito Santo. Nesse mesmo contexto, foram eleitos delegados para o coletivo de Salvaguarda capixaba.
Em 2019, esse coletivo se reuniu no 1º Encontro Estadual de Salvaguarda, que aconteceu, em São Mateus. Já o 2º Encontro Estadual de Salvaguarda foi realizado, em 2023, na capital Vitória.
O objetivo atual do 3º Encontro Estadual consiste em construir, formalizar e validar, coletivamente, o Plano de Salvaguarda da Roda de Capoeira e Ofício de Mestres e Mestras de Capoeira do estado do Espírito Santo, tal como de fortalecer a política integrada entre os entes federativos e a sociedade civil.
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