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Entrevista/Moda Autoral
Por: José Salucci – Jornalista
A “Feira ES+ Moda” acontece nesta sexta (13) e sábado (14), no Hub ES+, na Praça Costa Pereira, Centro de Vitória. Com 10 expositores durante os dois dias de programação, a feira se mostra como uma vitrine da moda capixaba. Criações feitas por designers independentes, estilistas e coletivos, as marcas selecionadas têm em comum a busca por uma moda mais sustentável, acessível e autoral.
Entre os expositores, marca presença a estilista Stael Magesck – graduada em Design de Moda, multiartista, empreendedora e produtora cultural. Sua inteligência e desejo pujante em militar pela cultura e arte, a tornou fundadora do espaço cultural Casa da Stael, um lugar que compartilha a paixão pelo que é feito à mão, que valoriza a moda autoral capixaba.
Seu trabalho une tradição, design e contemporaneidade, com um olhar sensível e inovador que fortalece a cena criativa local. Ela é uma mulher que deseja inspirar pessoas e territórios e, cada vez mais, fortalecer esse movimento da moda local autoral. Seu conceito de trabalho na moda, é tratar o tecido como se fosse uma camada. Segundo ela, a roupa é mais uma camada que nos compõe. A estilista entende que o tecido também é uma pele, e, sendo pele, merece ser “tatuado” com a criatividade e identidade cultural local.
Filha de costureira, aos sete anos de idade Stael já estava dentro de um comércio que trabalhava com materiais para costura. O destino encarregou de guiar seus passos, tornando-a uma militante da cultura e da arte.
Merkato aproveitou o ensejo da “Feira ES+ Moda”, para criar a série “Moda Autoral Capixaba”. Durante os próximos meses, uma série de entrevistas será publicada com os 10 expositores que estarão presentes na “Feira ES+ Moda”, tendo como estreia, hoje, a estilista Stael Magesk.

Leitor, venha conhecer o mundo da moda autoral capixaba!
1 – Stael Magesk, você é referência em resistência quando se fala de preservação da cultura. Qual a satisfação profissional em poder transformar a moda em expressão cultural e criativa, em um espaço localizado no Centro de Vitória, seu lugar de pertencimento?
Eu acho uma sensação de liberdade, não precisar de ficar presa a tendências e ter coragem de criar aquilo que está no meu coração, aquilo que conta a minha história, o que nos pertence, e não estar preocupado com aquilo que está nas passarelas, o que está se usando ou não.
Também, é uma maneira de inspirar outras pessoas a serem elas e usarem nossas peças e criações. Sempre terá alguém que vai se identificar com suas ideias e valores. Às vezes, eu me incomodo com essa questão da moda, agora o vestir-se, é um ato de revolução. Um ato de você dizer assim: eu gosto de vestir isso daqui. Isso me representa.

2 – Na próxima sexta-feira (13) e sábado (14), você será expositora na “Feira ES+ Moda”. O que representa para sua carreira participar desse evento?
Estou no ‘mercado da moda’ desde 2001, e fico muito feliz por ter sido selecionada para participar como expositora, afinal estarei ao lado de muitos criativos da cena atual da moda local e isso é bacana, pois funciona como uma vitrine tanto para a divulgação do meu trabalho para um público novo que está produzindo e consumindo cultura e moda como identidade, forma de expressão… Como também sobre a importância de um ambiente que proporciona o conhecimento de novas técnicas e intercâmbio entre os criadores.
3 – De acordo com a proposta da “Feira ES+ Moda”, o público poderá experimentar e adquirir peças exclusivas criadas por marcas autorais, as quais apostam em design, sustentabilidade, diversidade e inovação; o que tem a pontuar sobre esses objetivos enquanto estilista?
Isso é o grande barato da “moda” atual, valorizar o pequeno negócio, a produção em pequena escala, comprar de quem faz, reconhecer as marcas que trabalham com propósito e alinham suas criações às propostas de respeito e ética ao meio ambiente.
A indústria da moda é a segunda maior poluente do planeta, sendo assim, moda nos dias de hoje, é trabalhar de maneira a reduzir os impactos negativos da indústria na natureza, ser consciente e praticar ações por futuros desejáveis e possíveis.
4 – Stael, se vestir é costume do ser humano, e em cada cultura há tipos de modelos, cores e significados nas indumentárias. A “Feria ES+ Moda” procura dialogar com os temas atuais do planeta: gênero, sustentabilidade, diversidade, inclusão, economia criativa, entre outros. O que os comunicadores de moda local e autoral precisam de entender e buscar sobre essas temáticas para criarem suas peças?
Estudar cada vez mais. Olhar pra dentro de si, olhar para seu entorno, onde você frequenta, que pessoas estão neste mundo, quais são as demandas, o que falta… A gente cria para uma demanda. A partir disso, as criações vão surgindo.
Eu acho muito importante olhar sua cultura, seu ambiente. Quando você está pautado em fazer para as pessoas e com as pessoas, a gente não gera só mais uma peça que não vai ter finalidade, não. Ela vai ter funcionalidade, sim, ergonomia… Essa coisa de atender as demandas e, principalmente, no momento em que a gente fala muito de inclusão… Moda para todos, roupa para todos. Como eu disse, eu não gosto de dizer muito sobre moda, moda eu coloco em aspas, mas roupa para todos. Então, se você olha para seu entorno, isso é crucial para que você possa criar.
5 – Moda e identidade cultural, o que pretende transmitir em suas peças?
Eu procuro mostrar em minhas peças, exatamente essa cultura: o que nos pertence. Eu quero é falar de nós, da nossa culinária, dos nossos povos, origens. Assim, como também, eu falo muito de mim, das minhas sensações, dos meus sentimentos, da minha memória afetiva.
Minha mãe foi costureira… Aos sete anos de idade, eu já estava dentro de um comércio que trabalhava com aviamento, materiais para costura. Então nessa idade já ajudando a minha mãe, eu já aprendi a mexer com esses materiais têxteis, que vão para a cadeia da moda. E, nas minhas criações eu falo muito sobre isso. Eu uso, inclusive, materiais desse período, porque quando a minha mãe fechou esse comércio sobrou material, eu tenho esse acervo comigo. Então eu trago nas minhas criações histórias e memórias.

6 – Stael, o que é sustentabilidade na moda ou moda sustentável?
É uma moda pautada na ética. Costumo dizer que é a moda verde, pensada nessa cadeia que respeita quem está por trás de suas roupas, quem faz, quem confecciona, uma produção justa, onde você valoriza desde a matéria-prima, assim como também quem produz a roupa e possa receber um preço justo pelo seu trabalho. É pensar até o final da produção. Que embalagem vai levar a sua criação, como ela será descartada no meio ambiente.
Nesse contexto, o brechó está dentro dessa pegada de ser acessível no preço, de reutilizar uma roupa. Essa moda vai circular, indo para outros corpos, não estará indo para o lixo. Então, a moda sustentável é uma moda que pensa em como o máximo possível trabalhar uma maneira positiva para o planeta que a gente deseja.
7 – Você é uma defensora da produção autoral local. Indústria versus marca autoral, o chique e o estilo, moda e gosto pessoal; o que refletir nesses parâmetros?
Parece clichê a frase: moda passa, o estilo fica. Mas é um fato. O grande barato da moda é: você ser você. Não existe uma regra, um padrão, uma imposição naquilo que você deva usar. Na verdade, é você criar cada vez mais seu estilo próprio e você mesmo customizar, que você possa imprimir nessa peça as suas relações. Moda é manifesto.

8 – Stael, para concluir, me fale sobre o Mercado Autoral Capixaba (MAC), o que esse trabalho contribuiu para dar visibilidade e ser vitrine da produção autoral capixaba e como funciona atualmente?
É uma feira criativa. Comecei a desenvolver com artesanato, moda de produção local autoral, exatamente para produtores que trabalham dentro de uma escala menor, feito a mão, peça por peça, peça única. É uma feira criativa dentro de um evento que eu fazia no espaço cultural Casa da Stael, durante o Viradão Cultural de Vitória, então a gente sempre teve essas feiras criativas, aqui, na Casa da Stael para dar visibilidade a essa vitrine da produção capixaba.
Esses trabalhos ficavam à exposição e comercialização, fortalecendo a economia criativa, valorizando esses empreendedores.
Atualmente, não que ela deixou de ser feira, a MAC dá nome a sala colaborativa dentro do espaço cultural Casa da Stael. Eu exponho, além das minhas criações autorais, peças de outros artistas que estão como nossos colaboradores. E o objetivo é ter esse espaço onde as pessoas possam conhecer quem está fazendo, quem está produzindo esses novos olhares, valorizar a cultura local.

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